Mateus registra urna série de incidentes demonstrando a natureza da hostilidade farisaica.
1-8. Os fariseus se opõem à colheita de espigas no sábado.
1. Ao caminhar pelas searas, os discípulos exerceram seu privilégio legal de colher e comer as espigas (Dt. 23:25).
2. Para os fariseus, que deviam estar passeando pelos mesmos campos, o ato pareceu ilícito porque envolvia a quebra do sábado. Rabinicamente interpretado, colher espigas era trabalho (Êx. 20:10).
3, 4. A primeira réplica de Cristo cita Davi e os pães da proposição (I Sm. 21:1-6). Embora a Lei divina restringisse os pães da proposição aos sacerdotes (Lv. 24:9), a extrema necessidade humana invalidava este regulamento, e os rabis o compreendiam assim.
5, 6. Uma segunda ilustração mostra que a lei do descanso sabático não era absoluta, pois dos sacerdotes se exigia pela própria lei que trabalhassem no sábado (Nm. 28:9,10). O argumento é, se os sacerdotes não são culpados ao trabalhar no sábado para promoção da adoração no templo, quanto menos culpa têm os discípulos em usar o sábado para a obra de Cristo, que é a realidade para a qual o Templo apontava.
7. O terceiro argumento de Cristo aponta a má interpretação farisaica de Os. 6:6. Misericórdia quero e não holocausto (conf. Mt. 9:13). Deus deseja corações preparados muito mais do que as exterioridades que se transformaram em meras formalidades. Uma compreensão espiritual de Cristo e dos discípulos da parte dos fariseus teria evitado que julgassem os inocentes.
8. É Senhor do sábado. Considerando que Jesus, como Filho do Homem, é o Senhor do sábado, os discípulos que usaram o sábado ao segui-lo, faziam-no de maneira apropriada.
9-21. Os fariseus se opõem à cura no sábado. (Conf. Mc. 3:1-6; Lc. 6:6-11)
9. Sinagoga deles. Lucas conta que isto ocorreu em um outro sábado.
10,11. É lícito curar nos sábados? O V.T, não fez nenhuma proibição, mas alguns rabis achavam que era trabalho. Jesus, entretanto, apontando para o que qualquer indivíduo teria feito em favor de uma infeliz ovelha, esclareceu a sua própria obrigação.
12. Considerando que o homem é incomparavelmente mais valioso do que uma ovelha, Ele tinha de vir ao seu socorro. Deixar de fazer o bem quando está ao alcance é o mesmo que fazer o mal (veja Mc. e Lc.).
13, 14. O milagre apenas enfureceu os fariseus, que imediatamente conspiraram (com os herodianos, Mc. 3:6) em como lhe tirariam a vida. Assim, na Galiléia, como acontecera há pouco em Jerusalém (Jo. 5:18), o ódio assassino começou a tomar forma definida. Homens que achavam que curar no sábado era violação da lei não sentiam escrúpulos em conspirar um homicídio.
15. Afastou-se dali. O conhecimento da conspiração apressou Jesus a evitar o conflito aberto nessa ocasião, pois a sua hora ainda não era chegada. Assim Ele transferiu seu ministério para outros setores (Mc. 3:7), e curou ele a todos.
16. Entretanto, ele advertia aqueles que curava (especialmente os endemoninhados, Mc. 3:11, 12) a não usarem os milagres para proclamá-lo o Messias, excitar conseqüentemente as multidões e a oposição.
17-21. Para se cumprir. Este ministério manso e não provocativo de Jesus está descrito por Mateus para ser consistente com a profecia messiânica (Is. 42:1-4). Pois assim como Jesus enfatizou os aspectos justiceiros e espirituais do seu Reino, também não se empenhou em arengas públicas, nem em demagogia política. Também não espezinhou os fracos com intuitos de alcançar seus desígnios. Torcida que fumega. O pavio de um candeeiro cujo combustível se acabou, símbolo daqueles que são fracos.
22-37. Os fariseu se opõem a que Cristo expulse demônios.
22. Um endemoninhado. A possessão demoníaca produziu dois efeitos colaterais – cegueira e mudês. A cura removeu todas as três aflições.
23. É este, porventura, o Filho de Davi? A resposta negativa implícita na pergunta revela que mesmo tendo o milagre levantado a possibilidade de sua messianidade (Filho de Davi, conf. 1:20; 9:27), o povo tinha a predisposição de não crer.
24. A perversa acusação de que o poder que Cristo possuía sobre os demônios derivava de uma ligação com Belzebu (veja comentário em 10:25) era do conhecimento pleno de Jesus e foi publicamente refutada de maneira inatacável.
25,26. A simples analogia de um reino dividido, cidade ou casa, que tende à autodestruição, refuta a acusação. Pois, expulsando demônios, Jesus estava certamente frustrando as obras de Satanás, e devemos creditar a Satanás uma porção razoável de esperteza. (Nem se deve aceitar que Satanás pudesse permitir uma expulsão para confundir, pois não foi um caso isolado.)
27. Por quem os expulsam vossos filhos? Considerando que alguns dos companheiros desses fariseus (compare a expressão do V.T., "filhos dos profetas") diziam possuir o poder de exorcizar, era ilógico atribuir efeitos semelhantes a causas diferentes. Se os judeus realizavam exorcismos válidos não importa à argumentação (ad hominem). O fato dos fariseus asseverarem-no torna o argumento eficiente. Se, entretanto, Jesus insinua que pelo menos alguns dos exorcismos dos fariseus eram genuínos, é preciso aceitar que o poder deles vinha de Deus (caso contrário, o argumento de Cristo ficava grandemente enfraquecido).
28,29. O argumento final de Cristo chama a atenção para o seu próprio ministério, particularmente para a expulsão dos demônios, que era evidência suficiente de que era chegado o reino de Deus. A descrição do ministério de Cristo como a entrada na casa do valente (o domínio de Satanás) para roubar-lhe os bens (o poder de Cristo sobre os demônios), fornece prova clara de que o homem valente (Satanás) primeiro foi manietado. A vitória de Jesus sobre Satanás na tentação (4:1-11) demonstrou a superioridade do Senhor.
30. Quem não é por mim é contra mim. No conflito com Satanás, a neutralidade é impossível.
31,32. Todo o pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens. O princípio geral. A expiação feita por Cristo no Calvário seria suficiente para remir a culpa de todos os pecados, até as formas mais graves de injúria contra Deus (blasfêmia). Um pecado, entretanto, foi declarado imperdoável: se alguém falar contra o Espírito Santo. À vista do princípio que Jesus apresentou antes, esta imperdoabilidade não pode ser devida à impropriedade da expiação, nem podemos supor qualquer santidade peculiar da Terceira Pessoa da Trindade. Muitos explicam este pecado como sendo a atribuição da miraculosa obra do Espírito ao poder de Satanás (conf. Mc. 3:29, 30), e não vêem possibilidade de ser hoje cometido (Chafer, Broadus, Gaebelein). Outros, entretanto, consideram a acusação dos fariseus um sintoma, e não o pecado em si. Os versículos seguintes apontam o coração corrupto como a causa do pecado.
A função particular do Espírito é a de convencer e causar arrependimento, tornando o homem receptivo ao apelo de Cristo. Assim, os corações que odeiam a Deus e blasfemam contra Cristo (I Tm. 1:13) ainda podem ser convencidos e levados ao arrependimento pelo Espírito. Mas aquele que rejeita toda aproximação do Espírito afasta-se da única força que o pode levar ao perdão (Jo. 3:36). Que tal estado decaído pode ser experimentado nesta vida está claramente implícito nesta passagem. O VT descreve-os dizendo que pecam "atrevidamente" (Nm. 15:30): para tais não existe expiação. Os homens não podem ler os corações e portanto não podem julgar quando os outros chegaram a esse estado. A verdadeira possibilidade desse pecado não enfraquece o apelo do evangelho. "Todo aquele que quiser", pois pela sua própria natureza tal vontade não tem a inclinação de aceitar. Quanto aos fariseus que ouviam Jesus, não se declarou se cometeram ou não este pecado em sua totalidade. Sua considerável instrução tornou grande a sua responsabilidade; sua hostilidade anterior provou sua incredulidade determinada.
33-35. Fazei a árvore boa. Uma passagem semelhante a 7:16-20, onde as palavras dos homens são consideradas como indicação do estado do coração humano.
36,37. No dia do juízo o Senhor examinará a vida de todos os homens de ponta a ponta, até mesmo toda palavra frívola (não necessariamente má) que tenha brotado do seu coração. Só o divino Juiz é capaz de registrar, avaliar e dar um veredito sobre tais assuntos.
38-45. Os fariseus e os escribas exigem um sinal.
38. Queremos ver de tua parte algum sinal. Ignoraram os milagres anteriores. Queriam algum feito sensacional que estivesse de acordo com a idéia que tinham do Messias (conf. Mt. 16:1), um sinal que não exigisse fé, só vista.
39. Uma geração má e adúltera. Uma descrição da nação espiritualmente infiel nos seus votos feitos a Jeová (conf. Jr. 3:14,20). Para tal nação, o grande sinal da Ressurreição foi aqui profetizado (e até já fora sugerido antes, Jo. 2:19-21).
40. A experiência de Jonas, que foi libertado do ventre do monstro marinho, era um tipo do futuro sepultamento e ressurreição de Jesus depois de três dias e três noites no coração da terra. Aqueles que se apegam à tradicional crucificação na sexta-feira explicam o tempo aqui idiomaticamente, como partes de dias (sexta-feira, sábado e domingo). Aqueles que se apegam à crucificação na quinta-feira explicam a referência literalmente, contando setenta e duas horas, do pôr-do-sol de quinta-feira ao pôr-do-sol de sábado.
41. Os ninivitas, tendo recebido Jonas e a sua mensagem depois de seu milagroso salvamento, se arrependeram. Por isso, sua atitude coloca Israel em situação muito pior, pois como nação permaneceu sem arrependimento, tanto antes como depois da Ressurreição, mesmo quando estava ali quem é maior do que Jonas (maior do que).
42. Do mesmo modo o interesse da rainha de Sabá (I Reis 10:1-13) pela sabedoria de Salomão (divinamente concedido) colocará em triste contraste, no juízo, a incredulidade do atual judaísmo.
43-45. Uma parábola notável sugerida, naturalmente pela ocasião (12:22 e segs.), descreve a situação precária de Israel (e dos fariseus). O demônio expulso, não encontrando descanso nos lugares áridos (indicado em outro lugar como habitação dos demônios: Is. 13:21; Baruque 4:35; Ap. 18:2) retorna à sua antiga habitação, que agora está mais atraente (varrida e ornamentada), mas vazia. Torna a entrar com outros sete espíritos, e o resultado é uma degeneração ainda pior.
Assim também acontecerá. Israel (nacional e individualmente) foi moralmente purificada pelos ministérios de João e Jesus. Desde o Exílio, as perversidades da idolatria declarada foram removidas. Mesmo assim, em alguns casos, a reforma que tinha a intenção de ser preparatória interrompeu-se. A casa de Israel estava ''vazia". Cristo não foi convidado a ocupá-la. Por isso esta geração perversa alcançará um estado ainda pior. Alguns anos mais tarde esses mesmos judeus enfrentaram os horrores de 66-70 A.D. No tempo do fim, os membros dessa raça (genea) serão especialmente vitimados por demônios (Ap. 9:1-11).
46-50. A mãe e os irmãos de Cristo.
46,47. Sua mãe e seus irmãos. Esses irmãos são presumivelmente os filhos de José e Maria, nascidos depois de Jesus. Procurando falar-lhe indica que foi feito um esforço, mas a multidão era grande demais (Lc. 8:19). Os motivos de sua preocupação estão óbvios. Anteriormente, a pregação de Jesus em Nazaré forçara a família a mudar-se para Cafarnaum (4:13; Lc. 4:16-31; Jo. 2:12). Agora provocara a oposição aberta e blasfema dos fariseus. Além disso, amigos file contaram que a tensão do seu ministério afetara-file a saúde (Mc. 3:21). O versículo 47 acrescenta alguma informação nova, e muitos manuscritos o omitem.
48. Quem é minha mãe? Com esta pergunta que intriga, Jesus deixa a multidão admirada e a prepara para ouvir uma preciosa verdade.
50. Qualquer que fizer a vontade de meu Pai. Este "fazer" não é alguma forma de justiça pelas obras, mas a reação do homem ao apelo de Cristo. "A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou" (Jo. 6:29). O relacionamento espiritual entre Cristo e os cristãos é mais íntimo que o mais íntimo laço de sangue. Essas palavras não foram um desrespeito à sua mãe nem a seus irmãos, pois em ocasião posterior nós os encontramos participantes desse. relacionamento espiritual (Atos 1:14). Como também não há aqui nenhuma sugestão de que a mãe de Jesus tivesse um acesso especial à sua presença! Que Deus nos abençoe, nos guarde e nos dê a paz, " LEIA A BÍBLIA, A BÍBLIA ELA NOS FORTALECE, NOS CONSOLA, NOS ORIENTA, É AINDA NOS ANIMA ".