Mãe Suficientemente Boa é um conceito do pediatra, psiquiatra e psicanalista inglês Donald Woods Winnicott, em uma resposta a um jornal britânico, resposta cujo trecho da entrevista se tornaria célebre. É o que significa ser uma mãe suficientemente boa.

O conceito de Mãe Suficientemente Boa:

Em 1949, durante conversas com a BBC de Londres, Donald W. Winnicott responde à Iza Benzie, produtora da rádio à época, sobre sua teoria de “Mãe Suficientemente Boa”.

Diz: “Essa frase tornou-se um varal para pendurar coisas e ajustou-se à minha necessidade de escapar à idealização e aos eventuais intentos de ensino e propaganda.” (Winnicott, D.W. Talking to parents. Cambridge, Massachusetts: Perseus Publishing 1993, p. XIV.).

Nesta fala de Winnicott nota-se um certo desconforto e até mesmo relativa fuga do tema quando responde; isso porque, segundo o próprio autor, havia muito orgulho ao apropriar-se e utilizar-se do termo “Mãe Suficientemente Boa” por todo o significado implícito a ele, porém nunca foi sua intenção fazer uma teoria sobre mães e as complexidades da maternidade, mas apenas tratar sobre prover aquilo que o bebê precisa a seu tempo, tal como verificado em sua clínica.

Mãe Suficientemente Boa significa uma mãe perfeita?

Para Donald winnicott a “Mãe Suficientemente Boa” não é perfeita, como muitas vezes era – e ainda é cobrado destas pela sociedade (e até mesmo por outras mães) –, uma “Mãe Suficientemente Boa” é aquela que, além de prover as necessidades do indivíduo para se constituir como sujeito, também falha – o tempo todo –, e está continuamente corrigindo essas falhas.

E é justamente a somatória das falhas, seguidas pelo tipo de cuidados que as corrigem, que acaba constituindo a “comunicação do amor, assentada pelo fato de haver ali um ser humano que se preocupa.” (Winnicott, D.W. Os bebês e suas mães.São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 87).

A relação da mãe com a criança:

Isso tudo se trata, no âmago, de fornecer o necessário (e não mais que isso) ao seu bebê, também se identificando com ele, mas sem perder sua individualidade, como mulher.

Mais adiante, Winnicott, em outra obra (1966, pg. 205), ainda coloca “uma criança que, por vezes, é surpreendentemente madura aos quatro anos e meio se converte de súbito num bebê de dois anos quando precisa de que a tranquilizem, por causa de um dedo cortado ou de uma queda ocasional, é suscetível de tornar-se ainda mais infantil na hora de dormir”.

Neste momento Winnicott distingue os estágios de desenvolvimento da psique em dois grupos maiores:

  • estágios primitivos: que comportam desde o estágio pré-natal ao estágio da primeira mamada teórica (podendo ocupar os primeiros três a quatro meses de vida do bebê) e são caracterizados pela dependência absoluta do bebê para com os cuidados pessoais e ambientais, e
  • estágios de dependência e independência relativas: que comportam desde o estágio da desilusão à terceira idade.

Falaremos com mais detalhes o estágio primitivo, uma vez que nesta fase torna-se mais propenso o apego entre mãe e filho, e o vínculo pode se tornar maior.

Os estágios primitivos segundo Winnicott:

Nos estágios primitivos, os desafios do amadurecimento são a integração no tempo e no espaço, o alojamento da psique no corpo (personalização), o início do contato com a realidade (relações objetais) e a constituição do si-mesmo primário. Essas demandas estão relacionadas entre si, e as tarefas da mãe estão diretamente relacionadas com cada uma delas.

Isso ocorre por volta dos primeiros quatro meses de vida do bebê. A amamentação possui importância central, como sugere o nome, no entanto, não somente por seu caráter de alimentação, mas pelo sentido da relação estabelecida entre a mãe e o bebê.

O mais delicado nesta fase é que pode ocorrer a chamada “patologia correspondente”, já que, no estado de dependência absoluta, onde o amor é expresso por meio de um “holding” físico, se houver fracasso do ambiente pode-se ter a paralisação ou interrupção do processo de amadurecimento.

Essa paralização se manifesta como uma deficiência mental, independente de qualquer problema orgânico, ou uma esquizofrenia da infância (autismo), ou, ainda, uma predisposição para a doença mental mais tarde. 

O significado de Mãe Suficiente Boa na Psicanálise:

A clínica psicanalítica tem nos mostrado que há uma grande experiência de devastação materna e que não é rara a exceção destinada a poucas mulheres não afeitas ao mundo materno. Algumas, inclusive, colocam-se infinitas imposições, tarefas e medidas protetivas para a criança, num esforço exaustivo de controle e de tomar as rédeas da situação por meio de um cuidado metódico e super-proteção (excesso de higiene, de horários, de regras, de alimentação perfeita etc.).

A cadeia de cuidados não tem fim, o que pode fazer com que, dentro desse contexto, torne-se uma neurose infinita. 

Ao tentar responder a devastação materna com desmandos do superego, muitas mulheres relatam uma profunda sensação de impotência, sentindo-se incapazes de estarem à altura das tantas tarefas cotidianas com a criança, traduzidas por uma profunda sensação de exaustão e de fracasso.

Mas, enfim, o que realmente designa uma Mãe Suficientemente Boa?

É aquela que faz bem a seu bebê, mas vive de modo genuíno seu papel, e, mais que qualquer coisa, sente. Winnicott não tem intenção de ensinar como é ser mãe, mas descreve o que observou no seu trabalho como pediatra e integra à psicanálise esses conhecimentos.