quarta-feira, fevereiro 15

ESTUDO SOBRE A PLANTA MEDICINAL " LAFOENSIA PACARI A. ST. HIL. " UMA PLANTA COM VÁRIAS PROPRIEDADES TERAPÊUTICAS "

Nome científico: 
Lafoensia pacari A.St.-Hil.
Família: 
Lythraceae
Sinonímia científica: 
Não há sinônimo segundo o sistema APG III.
Partes usadas: 
Casca
Constituintes (princípios ativos, nutrientes, etc.): 
Ácido elágico, taninos.
Propriedade terapêutica: 
Antioxidante, antitumoral, antiúlcera gástrica.
Indicação terapêutica: 
Úlcera gástrica, gastrite, ferimentos, inflamação do útero, transtornos da vesícula biliar, emagrecimento, urticária.

Origem, distribuição:
Nativa do Brasil, ocorre na América do Sul e Central. Endêmica no cerrado brasileiro.

O termo pacari é de origem tupi-guarani significando "árvore de madeira preciosa".  

Descrição:
Espécie arbórea de baixo a médio porte, pode atingir de 4 a 12 m de altura ocorrendo principalmente em formações secundárias como capoeiras e capoeirões. Tem ampla dispersão porém descontínua, nunca formando grandes populações.

Expostas acima da copa de forma ereta ou ligeiramente inclinadas, as flores têm pétalas de cor branco-amarelada, numerosos estames com anteras razoavelmente grandes, exalam odor desagradável e possuem ântese crepuscular.

Esses atributos florais sugerem que a polinização de L. pacari ocorra principalmente por morcegos (síndrome da quiropterofilia), mesmo havendo produção de néctar constante capaz de atrair outros animais e insetos polinizadores.

Os frutos são cápsulas conspícuas com sementes aladas o que favorece a disseminação da espécie através do vento.

A madeira é moderadamente pesada e apresenta superfície lisa ao tato e boa durabilidade, podendo ser usada na construção civil.

Nessas regiões é empiricamente conhecida como mangava-brava, candeia-de-caju, copinho, dedal, didal, dedaleira, pacuri, dedaleira-amarela, louro-da-serra, mangabeira-brava, pacari, pacari-do-mato, pacuri e pau-de-bicho.

No oeste do Paraguai, onde é conhecida como "morosyvó", o decocto é empregado oralmente para o tratamento de câncer.

O uso medicinal é amplo com destaque sobre o macerado aquoso para o tratamento da úlcera gástrica e gastrite.

Sua utilidade também é registrada para ferimentos, inflamação do útero, transtornos da vesícula biliar, emagrecimento e urticária.

Nas indicações de uso oral sugere-se a maceração em água ou vinho, com consumo periódico enquanto persistir o quadro patológico.

Aspectos farmacológicos
A coleta do farmacógeno ainda é extrativista sendo, geralmente, realizada no cerrado próximo ao centro urbano. Após retirada do súber e secagem ao sol, a casca é comercializada em sacos plásticos com porções de aproximadamente 100 g.

A produção científica sobre os aspectos químico-farmacológicos de L. pacari iniciou-se com a triagem farmacológica de plantas medicinais empregadas como anti-inflamatória e antiúlcera. Essa droga é apontada como uma das mais potentes sobre a ação antiúlcera gástrica entre 8 espécies analisadas.

Foi verificada a ação do extrato bruto metanólico (EBMeOH) da casca em diversos ensaios in vivo em ratos Wistar, após administração oral ou intraperitonial.

Os ensaios farmacológicos foram: teste hipocrático, toxicidade aguda (DL50), toxicidade subcrônica, motilidade do trânsito intestinal, tempo de sono barbitúrico; tempo de imobilização pressão arterial média, atividade antinoceptiva periférica, atividade anti-inflamatória por edema de pata induzido por carragenina e atividade antiúlcera pelos modelos de lesões gástricas induzidas por etanol, estresse hipotérmico, ácido acético e indometacina.

Os resultados indicaram que a administração oral do EBMeOH não possui toxicidade aparente, entretanto quando administrado intraperitonialmente apresentou DL50 de 556 (± 40 mg/kg). As alterações da pressão arterial média, motilidade gastrointestinal e do efeito analgésico periférico, também não foram evidenciadas. Já os ensaios para efeito antiúlcera atestaram potente atividade dose-dependente (doses variando entre 12,5 a 200 mg/kg) na inibição das lesões de úlcera crônica causada por ácido acético e das lesões gástricas agudas induzidas por etanol, indometacina e estresse hipotérmico.

Estudos biológicos registraram a eficácia do extrato aquoso da casca de L. pacari sobre a peritonite aguda induzida por carragenina, ação imunoestimulante sobre a produção de anticorpos contra antígeno timo-dependente, inibição da hipersensibilidade tardia e atividade imunossupressora dependente da dose sobre a síntese de anticorpos anti-ovoalbumina.

O potencial terapêutico do extrato de L. pacari (200 mg/kg, p.o.) em inflamação mediada pela interleucina IL-5 foi também comprovada em ratos infectados com Toxocara canis. Apesar da ação anti-inflamatória positiva, afirmam que essa droga vegetal não possui efeito tóxico para o parasita.

Também é declarada a ação antimicrobiana dos extratos das folhas e da casca sobre Candida albicans e Staphylococcus aureus. Segundo o estudo, os extratos obtidos da casca possuem atividade positiva sobre C. albicans e os extratos da folha são ativos sobre os dois microorganismos testados. Foi registrada potente ação antibacteriana do extrato hidroalcoólico de L. pacari contra bactérias multi-resistentes de origem hospitalar.

Até 2002 somente um trabalho científico indica atividade farmacológica negativa. Essa pesquisa avaliou o extrato etanólico das folhas deL. pacari sobre o fungo dermatófito Trichophyton rubrum.

Aspectos fitoquímicos
No que se refere a fitoquímica de L. pacari, a literatura científica aponta somente estudos sobre a casca e folha. Foi registrada a presença de quercetina, 3-O-glucosídeo e 3-O-glucosil-glucosídeo de caempferol.

Tais estudos visaram auxiliar a determinação do padrão evolutivo da família Lythraceae através de parâmetros quimiotaxonômicos avaliando as substâncias flavônicas de alguns integrantes dos gêneros CupheaDiplusodon e Lafoensia. Neste último gênero somente L. pacariL. densiflora e L. glyptocarpa foram analisadas.

Em 1999 um estudo fitoquímico sobre a casca indicou presença marcante de ácido elágico e taninos relacionados, havendo 14,1% p/p dessa classe química no extrato bruto ensaiado pelo método de Folin-Ciocalteau. Realizado o fracionamento químico biomonitorado através de ensaios in vitro sobre o potencial antioxidante (radical difenil-picril-hidrazila: DPPH; xantina oxidase: XO), o ácido elágico foi apontado o marcador químico e o responsável pela potente ação antioxidante de cascas de L. pacari coletadas no Brasil e no Paraguai.

Sobre a variabilidade química da casca de L. pacari nativas do cerrado e do pantanal, foi constatado que as condições edáficas e climáticas do pantanal no período de chuva são ideais para a produção ou armazenamento de ácido elágico (cerrado: 4,5 mg/g, pantanal: 10,8% p/p), sendo o contrário observado para amostra coletada no cerrado no período de seca (1,01% p/p).

Esse marcador químico também foi identificado nas folhas de L. pacari através de cromatografia líquida de alta eficiência. Esse resultado, associado à alta capacidade antioxidante do extrato etanólico das folhas, pode indicar a substituição medicinal do farmacógeno (casca).

Atualmente a comprovada atividade antimutagênica do ácido elágico é o seu principal benefício terapêutico.

A inibição da atividade da enzima arilamina N-acetil-transferase de Helycobaster pylori pelo ácido elágico, sugere o potencial antiúlcera dessa substância o que, logicamente, atesta o uso popular da casca de L. pacari para o tratamento dessa patologia.

O efeito antioxidante do ácido elágico também é comprovado em diversas pesquisas, onde avaliaram o efeito desse composto sobre a enzima xantina oxidase indicando IC50 de 3,1 µM e 1,1 micro/mL, respectivamente. Um ensaio in vitro indicou efeito de 89% do ácido elágico (100 microg/mL) sobre a descoloração do radical DPPH.

A amplitude dos efeitos biológicos benéficos do ácido elágico faz da casca de L. pacari uma importante fonte medicinal. Mesmo havendo inúmeras e complexas substâncias químicas nessa droga vegetal, a comparação das atividades terapêuticas do ácido elágico com o uso medicamentoso da casca de L. pacari sugerem a atuação dessa substância como principal composto químico ativo.

Na busca de subsídios capazes de auxiliar no controle de qualidade da droga vegetal "mangava-brava" ou "dedaleira", autores determinaram parâmetros morfoanatômicos da entrecasca de L. pacari. Observaram que a organização geral desse farmacógeno apresenta um felema constituído por vários estratos de células retangulares dispostas de maneira compacta e que exibem parede simples, delgada, rica em suberina. Internamente ao felogênio, o feloderme é constituído de células vivas ricas em amido e grande quantidade de cristais prismáticos dispostos radialmente.

Na constituição da casca verificaram blocos de células esclerenquimáticas acima do floema. Em toda a extensão da casca foi notada presença de idioblastos com conteúdo mucilaginoso e com fenóis. Estes aspectos não se mostraram alterados em amostras coletadas no cerrado e pantanal nos períodos de seca e chuva.

 Toxicidade:
Vários autores informam sobre a toxicidade do decocto, que pode provocar náuseas e vômitos.

Um estudo em 2004 verificou o grau de toxicidade aguda e subcrônica das preparações medicinais caseiras (decocto e macerado aquosos) realizadas com a entrecasca de L. pacari. A DL50 avaliada em ratos Wistar não foi alcançada na dose máxima de 5000 mg/kg sugerindo que tanto o macerado quanto o decocto não são capazes de causar danos ao usuário se soluções concentradas forem ingeridas em dose única.

Quanto à toxicidade subcrônica dos extratos em diferentes concentrações, o autor afirma ter evidenciado algumas alterações bioquímicas decorrentes, provavelmente, de lesão hepática. Entretanto, também declara ser necessário reproduzir o experimento para obter resultados conclusivos.

Outras espécies de Lafoensia
Além de L. pacari, somente L. densiflora e L. glyptocarpa foram analisadas sob aspectos químicos e farmacológios. Sobre L. densiflora há estudo fitoquímico aprofundado sobre as folhas reportando presença de diversos compostos quimicamente diferentes variando entre ácidos triterpênicos, álcool, saponinas, floroacetofenona e flavonoides.

Das flores de L. densiflora, um estudo em 1995 apontou triterpenos (3-beta-acetoxi-11-alfa-epoxi-oleanan-28,13-beta-ólido, 3-beta-acetoxi-12-alfa-hidroxi-oleanan-28,13-beta-olido, betulina, ácido betulínico, acetato do ácido oleanólico, ácido hexacosanóico e beta-sitosterol), éster graxo do ácido cis-cumárico, éster graxo do ácido trans–cumárico e o açúcar hexa-acetato de manitol.

Os estudos biológicos de L. densiflora se restringem a ensaios microbiológicos comprovando-se efeito do extrato etanólico das flores sobre Staphylococus aureus e Eschericchia coli e das folhas sobre Cladosporium.

Os estudos fitoquímicos das folhas de L. glyptocarpa reportam a presença de saponinas (28-O-beta-D-glucopiranosil do 3beta-O-L-arabinopiranosiloleano-12-en-28-oíco e o 3beta-O-beta-D- glucopiranosil de beta-sitosterol) e flavonóides (3-O-galactosídeo de caempferol e 3-O-glucosídeo).

Em estudo inseticida sobre o caruncho Acanthoscelides obtectus em feijão armazenado, o pó das folhas e dos frutos dessa espécie ocasionou repelência e mortalidade sobre adultos e ausência de efeito nocivo na oviposição.

Outros usos:
Pelo seu aspecto ornamental e por apresentar bom desenvolvimento em solo no início do processo de sucessão, recomenda-se o uso da árvore para o paisagismo em arborização urbana e em áreas de reflorestamento.

Por ser moderadamente pesada e apresentar superfície lisa ao tato e boa durabilidade, a madeira é indicada para construção civil. " NÃO TOME MEDICAMENTOS FITOTERÁPICOS SEM CONHECIMENTO DE UM PROFISSIONAL DE SAÚDE OU UM FITOTERÁPEUTA " ( A FITOTERÁPIA EFICAZ REQUER SABER COMO PREPARAR A PLANTA E COMO MELHOR USÁ-LA ).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O QUE É O METABOLISMO DO FERRO?