A psicanálise e os estudos de Freud sobre o comportamento humano auxiliaram e auxiliaram na compreensão da política. Assim como auxiliam em tratar pessoas na Primeira Grande Guerra. Não obstante, apesar de abordar esse tema em seus estudos, Freud e a política em sua vida pessoal, acabaram sendo distantes. Além de sua relação com a política ter sido um pouco ambígua.

Freud viveu a Primeira Grande Guerra, e esteve bem próximo do nazismo, ideologia esta que ele declarava claramente odiar. Por outro lado, ele se mantinha à distância do que estava ocorrendo. E isso, mesmo após o crescimento do movimento nazista e das violências por ele difundidas. Inclusive quando os nazistas chegaram à Áustria, cuja invasão ocorreu em 1933 e onde Freud então vivia.

Mesmo com a cidade de Viena sendo tomada pelos nazistas, Freud hesitou em deixá-la. Nessa época, ele já estava idoso e estabelecido profissionalmente, e já era amplamente conhecido pelos seus estudos. Apenas após muita pressão é que ele acabou sendo tirado de Viena. Seus livros foram queimados pelos nazistas.

Além dessa questão do nazismo, vivenciada de perto, Freud vivenciou a Primeira Grande Guerra. Ele quase vivenciou a Segunda Grande Guerra, que eclodiu em 1939, ano em que ele faleceu. Além dessas questões, a relação entre Freud e a política, mesmo que à distância em sua vida pessoal, esteve presente em sua obra.

Abordagem política em Totem e Tabu:

No livro Totem e Tabu, Freud e a política dessa obra, é tratada por meio do mito político freudiano. Vê-se a política quando ele aborda a origem da sociedade e a questão do equilíbrio social.

Estão presentes questões como o parricídio, o incesto e a exogamia (cruzamento de indivíduos não aparentados ou com grau de parentesco distante). Essas questões nos levam a reflexões sobre a obra de Freud e a política. Elas nos permitem dissertar sobre a civilização e repensar nos nossos atuais moldes sociais e políticos.

Nessa obra, Freud também lança as questões da lei moral e da culpa à antropologia de sua época. Ele coloca a ideia de que a substituição do pai é feita pelo animal totêmico e leva à reflexão sobre as religiões. Como ateu, Freud acaba criando uma crítica sobre as religiões. Além disso leva à reflexão sobre os aspectos negativos nelas presentes, e como eles repercutem nas sociedades.

A presença do homem, ou macho, como líder nas sociedades também é colocada em reflexão. Em Totem e Tabu há um pai violento e ciumento. Ele guarda as fêmeas para si e expulsa os filhos, conforme eles crescem. Assim, para reverter essa situação, os filhos homens acabam se juntando para matar o pai. Essa história, alegoria ou mito remete muito à história de Édipo e o complexo por Freud abordado em seu estudo.

Além disso, nessa alegoria, Freud e a política colocada em questão nos leva à reflexão sobre os fundamentos das organizações. Sejam organizações sociais, religiosas ou morais. Organizações que, muitas vezes, são fundadas a partir da repressão de instintos inerentes ao ser humano. Assim como também surgem a partir da violência e da agressão. Além de se pensar – ou repensar – a comum medida ou comparação de forças e a luta pelos poderes, nas sociedades.

A psicanálise e a política:

Ao trabalhar a luta por poder e a sublimação dos desejos, Freud explora os diferentes domínios e hierarquias sociais. Esses temas são muito pertinentes no pensamento na modernidade.

Outra questão sobre Freud e a política, com base na moral, é o fato de que a psicanálise trouxe contribuições significativas aos estudos biográficos de agentes políticos. Ele questionou o método cartesiano e propôs a centralidade de aspectos inconscientes em detrimento dos conscientes. A partir desse método, se pode analisar tanto agentes políticos quanto fenômenos de massa, presentes na história da psicologia política.

Os textos sociais de Freud contribuíram muito, tanto para a psicologia social quanto para a psicologia política. As teorias psicológicas e psicopatológicas da psicanálise devem ser consideradas nesse intuito. Elas auxiliam na reflexão sobre eventos sociais, que tenham ou não caráter político.

Assim, a psicanálise não deve ser vista como uma ciência pela qual se faz uma análise isolada de fatos sociais e políticos. Então, apesar de o pensamento freudiano poder ser aplicado à política, não podemos esquecer que ele oferece limitações nesse sentido. A psicanálise deve, na verdade, contribuir para outras ciências ou disciplinas e agregar nessa análise ou reflexão. Sejam elas as ciências políticas, a sociologia, a história ou a própria psicologia política.

As características sociais e psicológicas auxiliam na compreensão do comportamento social. Além do que, devemos no lembrar de que a psicanálise não se restringe à obra de Freud. Outros psicanalistas também contribuíram para compreendermos melhor a política, as sociedades e a moral.

Freud e a compreensão sobre a Política:

Portanto, apesar de Freud ter abordado, primariamente, alguns assuntos, como arte e religião. Não podemos separar Freud e a política de seus estudos, ainda que esta esteja num segundo plano em sua obra. Apesar de alguns estudiosos dizerem que a política ficou completamente esquecida na obra de Freud e do discurso psicanalítico. Pode se dizer que Freud abordou-a em sua obra, mesmo que não diretamente.

Além disso, ele acaba propondo reflexões políticas e sociais pertinentes, inclusive, para temas de grande interesse atual. Dentre eles, a disputa pelo poder e as hierarquias sociais. E também temas relacionados ao comportamento humano, como: sublimação dos instintos e desejos, exclusão, agressão e violência.

Além do que, é importante, na atualidade, que pensarmos na questão da psicanálise e em sua relação com a política. Esta indagação deve ser feita, inclusive, pois ela pode tratar de uma importante questão para o futuro da própria psicanálise.

Isto é, deve-se ir além de repensar a política e a história a partir do discurso freudiano e pós-freudiano. Também é importante refletirmos sobre a pertinência da psicanálise na contemporaneidade, a partir desses temas sempre atuais e presentes nos mais diversificados campos de estudo.