Se você gosta de estudar ou se interessa pela psicanálise, o estudo de hoje tem como objetivo dividir aqui com você um pouco sobre algumas mulheres que fizeram parte da história do movimento psicanalítico.
Foi a partir de 1920 que elas se tornaram mais presentes nesse movimento.
COUBE AS MULHERES O PAPEL INAGURAL DA ANÁLISE COM CRIANÇAS
Nos anos 20 as mulheres já buscavam um lugar e um papel na sociedade que não fosse somente o de esposa e mãe. No movimento psicanalítico essa realidade também se sentia presente. “… realizavam-se inúmeros debates referentes a suas vidas e seu comportamento: feminilidade, maternidade, análise de crianças, sexualidade feminina”. (ROUDINESCO, E. ) p. 331.
Os estudos de medicina ainda eram reservados aos homens, ficando as mulheres mais com a função educativa. Era comum as mulheres serem analisadas pelos seus próprios maridos psicanalistas e/ou amigos dos mesmos.
As mulheres, discípulas ou pacientes de Freud, eram bem diferentes das mulheres de sua família. Vindas de diferentes lugares: inglesas, alemãs, austríacas, americanas e, na sua maioria, pertencentes a classes altas, porém com uma independência e um modo de vida conquistados, bem diferentes daquelas que foram pioneiras da primeira geração da WPV (Associação de Psicanálise de Viena).
Antes de 1920, com algumas exceções, as psicanalistas ficavam à sombra dos homens. Era, então, pode-se dizer assim um momento de virada, pois, desse período em diante, seriam as protagonistas do movimento psicanalítico.
Roudinesco cita que “Se a maioria delas sofria de melancolia, tédio ou neuroses, em geral decorrentes de um contexto familiar ou conjugal conturbado, encontraram na psicanálise meios de ter uma profissão, engajar-se numa causa, transformar suas vidas ou, mais simplesmente, participar de uma aventura intelectual. Foi o caso, em especial, de Helene Deustch, Hilda Doolittle, Edith Jacobson, Ruth Mack-Brunswick, Dorothy Burlingham, Joan Riviere, Marianne Kris,(…). (p.349)
Vamos então conhecer por aqui um pouco sobre cada uma delas? Continue lendo esse estudo para saber mais.
HELENE DEUSTCH
Helene Deustch, polonesa, nascida em Przemysla em 09 de outubro de 1884. Foi a primeira mulher a liderar a Sociedade Psicanalítica de Viena e contribuiu para teoria sobre a psicologia das mulheres. Apesar da medicina ser um curso destinado aos homens, ela foi admitida em 1907 na faculdade de medicina da Universidade de Viena. Lendo a Interpretação dos Sonhos de Sigmund Freud e, impressionada pela teoria sobre a sexualidade infantil, o inconsciente e seus protestos contra a sociedade, se interessou pela psicanálise.
Em 1918, foi admitida na Associação psicanalítica de Viena, sendo mais tarde, em 1924 diretora da Associação.
Em 1925, escreveu um livro sobre a psicologia das mulheres, se tornando a primeira psicanalista a publicar um livro referente ao assunto.
Anos mais tarde, em 1935, emigrou para Boston, Massachusetts, nos Estados Unidos onde continuou trabalhando como psicanalista até sua morte em 29 de março de 1982.
HILDA DOOLITTLE
Hilda Doolittle, cujo pseudônimo era H.D., foi uma romancista, poetisa e memorialista americana, nascida em Bethlehem, Pensilvânia. Fez parte do movimento imagista em Londres. Durante a primeira guerra mundial, com a morte do irmão e o final de seu casamento, a sua poesia será influenciada por esses eventos.
No ano de 1933, foi encaminhada a Viena para fazer análise com Freud através do psicanalista Bryher, o qual dizia que ela estava paranóica, depois da ascensão de Adolf Hitler no poder e que, para ela, isso representaria uma nova guerra mundial.
Tornou-se amiga de Freud e foi sua analisante, buscando entender e poder expressar a sua bissexualidade. Durante seu tratamento com Freud, Hilda escreve em seu diário sobre a técnica da psicanálise vista pelo lado do analisante. Mesmo após a mudança de Freud para Londres, devido ao período do Nazismo, eles trocaram muitas correspondências.
Sofrida com os traumas da perda do irmão e o sofrimento dos traumas apresentados pelo seu ex-marido na Primeira Guerra Mundial, se referia a esses fatos como sendo a causa da morte de seu bebê ainda em seu útero.
Nas décadas de 1970 e 1980, os seus poemas foram redescobertos, vindo a se tornar um ícone do movimento gay e feminista.
EDITH JACOBSON
Edith Jacobson, alemã, viveu no período de 1897 a 1978. No ano de 1922, finalizou seu curso de medicina da faculdade de Jena, Heidelberg e Munique.
No Hospital Universitário de Heidelberg fez seu estágio, na área de pediatria, entre os anos de 1922 a 1925. Nesse período, através de seu trabalho e observações em crianças sobre o aspecto da sexualidade infantil, começou a se interessar pela psicanálise.
Se analisou com Otto Fenichel e iniciou seus estudos de psicanálise no Instituto Psicanalítico de Berlim, tornando-se membro da Sociedade Psicanalítica de Berlim no ano de 1930.
No ano de 1935, ela foi presa pelos nazistas por recusar a divulgar informações sobre um de seus pacientes. Devido a alguns problemas de saúde, foi internada no hospital de Leipzig e de lá conseguiu escapar para a Tchecoslováquia. Após a sua fuga, pouco tempo depois, emigrou para os Estados Unidos, se tornando membro do Instituto e Sociedade de Psicanálise de New York, se tornando analista e professora.
Se dedicou aos estudos, principalmente com pacientes depressivos e psicóticos, introduzindo o conceito de auto-representação com Heinz Hartmann.
RUTH MACK BRUNSWICK
Ruth Mack-Brunswick, nascida em Chicago em 1897, nos Estados Unidos, foi médica e psicanalista. Seus pais eram americanos de origem germano-judaícas. Foi introduzida no mundo da psicologia, por Elmer Ernest Southard, uma eminência de Harvard.
Permaneceu durante 10 anos em Viena, entre 1928 e 1938, onde foi analisada por Freud. Tornou-se um membro íntimo do círculo de psicanalistas, sendo considerada uma das confidentes de Freud. Foi membro e analista de treinamento em Viena e, também, da Associação de Psicanálise de New York. Foi uma das grandes mediadoras influentes entre Viena e Nova York.
A psicanalista centrou seus trabalhos nos aspectos pré-edipianos do vínculo emocional entre mãe e filho e no tratamento psicanalítico da psicose.
Freud atendeu a um russo de 23 anos, no ano de 1910, conhecido como um dos seus estudos de caso mais importante, chamado “o homem dos lobos” e foi para Ruth Brunswick que Freud encaminhou seu paciente para continuidade de sua análise, onde ela o atendeu no período de 1922 a 1927.
Era uma pessoa muito generosa e ajudou vários de seus amigos a deixarem a Austria no período do nazismo.
DOROTHY BURLINGHAM
Dorothy Burlingham, cujo nome completo Doroty Trimble Tiffany Burlingham, nascida em New York nos Estados Unidos, foi educadora e psicanalista americana de crianças. Viveu no período de 1891 a 1979. Filha do artista Louis Comfort Tiffany e neta de Charles Lewis Tiffany, fundador da Tiffany & Co.
Foi amiga e parceira de Anna Freud, também psicanalista infantil. Trabalharam em conjunto na análise de crianças.
Burlingham dirigiu um grupo de pesquisa na Clínica Hampstead de Londres, sobre o estudo de crianças cegas. Um dos seus trabalhos de 1979 com o tema “Ser cego em um mundo visado”, foi um marco da observação científica empática, publicado no estudo psicanalítico de criança.
Foi casada com Robert Burlingham, diagnosticado com transtorno Bipolar, o que resultou em sua separação. Com quatro filhos, sendo que um deles desenvolveu um distúrbio de pele, considerado de origem psicossomática. Em busca de cura para seu filho, Burlingham buscou na psicanálise o seu tratamento e, para isso, mudou-se para Viena com os filhos no ano de 1925.
Em Viena se analisou com Freud e seus quatro filhos foram encaminhados para análise com Anna Freud, filha de Sigmund Freud.
A doença de pele de seu filho desapareceu após o tratamento, o que a levou a se tornar uma analista. Foi muito próxima de Anna Freud e, após a morte de Sigmund Freud em 1939, no ano seguinte ela se mudou para casa de Freud em Londres, no endereço 20 Maresfield Gardens. Anna Freud e Burlingham permaneceriam parceiras durante os próximos 40 anos, onde juntas publicaram no ano de 1943, Bebês sem famílias.
No ano de 1951, juntamente com Helen Ross, a Clinica Hampstead se propôs a dar assistência e terapia as famílias em tratamentos de crianças perturbadas e deficientes, independente dos seus antecedentes sociais. Elas trabalharam juntas em Hampstead até a sua aposentadoria.
Burlingham morreu em Londres no ano de 1979 e suas cinzas estão no Crematório Golders Green, ao lado de Anna Freud que faleceu em 1982 e de Sigmund Freud e demais familiares. JOAN RIVÍERE
Joan Rivière, foi uma psicanalista inglesa que viveu no período de 1883 a 1962. Foi uma das pioneiras da Sociedade Britânica de Psicanálise e uma das suas maiores contribuições, na história da psicanálise, foi a realização das primeiras traduções de Freud da língua alemã para a inglesa.
Esteve a frente da Revista Internacional de Psicanálise no período de 1920 a 1937. Após seu internamento para tratar “doenças dos nervos” em um sanatório, foi analisada por Ernest Jones e foi uma defensora das teorias de Klein. Foi também analisada por Freud, durante um curto período, onde o mesmo observou o seu potencial. O seu trabalho com Freud possibilitou o insight “que ela buscava na compreensão da relação com os outros”.
Entre algumas de suas contribuições publicou os seguintes artigos: “Feminilidade como uma mascarada”(1929); “Regeneração Mágica através da Dança”(1930); “Ciúmes como mecanismo de defesa”(1932); “Novas Leituras Introdutórias da Psicanálise”(1934); “Uma contribuição à análise da reação terapêutica negativa”(1936); “A esposa desolada” (1945).
“Susan Isaacs, John Bowlby, Donald Winnicott e Ernest Trist foram analisandos de Joan; e Hanna Segal, Herbert Rosenfeld e Henry Rey, seus supervisionandos. Ao contribuir com a formação desses psicanalistas, Joan certamente cooperou com os progressos que eles implementaram na psicanálise.” (HAUDENSCHILD, Teresa Rocha Leite.Joan Riviere. J. psicanal. [online]. 2017, vol.50, n.92, pp. 251-264. ISSN 0103-5835.)
MARIANA KRIS
Marianne Kris era filha de Oskar Rie e Melanie Bondy. Seu pai era amigo e médico pediatra da família de Freud. Estudou medicina na Universidade de Viena, se especializando na área de psiquiatria no ano de 1925.
Foi analisada por Franz Alexander, por indicação de Freud. Seu noivo Ernst Kris, curador do Museu Histórico de Arte de Viena, se aproximou de Freud através de Marianne o qual dava conselhos a Freud sobre as suas coleções de antiguidades.
Ernst Kris foi analisado por Helene Deutsch. No ano de 1928 Marianne e seu marido se tornaram membro da Sociedade de Psicanálise de Vienna.
A família de Marianne Kris, bem como a de Freud, na época da incorporação da Áustria pela Alemanha, foram para Londres. Na Capital da Inglaterra, Marianne tornou-se membro e professora da Sociedade de Psicanálise Britânica.
Em 1940, o casal se estabeleceu em Nova York e Marianne se tornou, no ano de 1944, membro do (NYPS) Instituto de Psicanálise de Nova York e, em conjunto com Berta Bornstein, pertenceram ao pequeno grupo que tratavam com análise de crianças.
Ofereceu vários cursos aos médicos, bem como a outros profissionais. Se dedicou a “Junta Juvenil de Riu” onde trabalhou com assistentes sociais e trabalhadores jovens. O seu engajamento nas pesquisas sobre os filhos de Kibutz (comunidade judaica com a ideologia de trabalhar para o bem-estar coletivo) permitiu-lhe a prática das teorias psicanalíticas, além dos tratamentos convencionais.
Marianne, junto com o marido, trabalhou em vários projetos de pesquisa e criaram o Centro de Estudos Infantis na Universidade de Yale. Seu eixo principal de estudos foi trabalhar a psicanálise com vários membros da mesma família.
Após a morte de seu marido em 1957, se tornou editora da Revista sobre Estudos de Psicanálise de crianças e, junto com Anna Freud , lutou pela admissão da análise das crianças.
Foi analista de Marylinn Monroe, indicada por Anna Freud, onde Marylinn chegava a fazer cinco sessões por semana. Mas, Marylinn a trocou por outro psicanalista, por não ter concordado com a indicação de seu internamento, pois Marianne já observava em sua paciente sua tendência suicida.
Em 1961, Marylinn inicia seu tratamento com o Dr Greenson até a sua morte precoce, porém em seu testamento citou Marianne como uma das suas beneficiárias.
“O prêmio Marianne Kris recompensa, todos os anos, a pessoa ou o programa que contribui cientificamente, de forma profunda e sustentada, para o bem-estar emocional das crianças e da família”.
OUTRAS DUAS MULHERES IMPORTANTES DO CÍRCULO DE FREUD
Embora as duas mulheres fossem bem diferentes, uma Russa, que passou uma vida intensa na Alemanhã e Áustria e outra francesa, foram muito importantes no movimento psicanalítico e assumiram um papel importante na segunda parte da vida de Freud. Além de integrarem o “círculo de seus discípulos”, também participaram da vida familiar de Freud em sua intimidade. Quem são elas?
LOU ANDREAS- SALOMÉ
Lou Andreas-Salomé nasceu cinco anos depois de Freud, em São Petersburgo. Foi filósofa, romancista, poeta e psicanalista. Veio de uma família da aristocracia alemã. Era contrária as normas do casamento burguês e se dedicou a vida intelectual, desde a sua juventude. Muito bonita e sedutora foi o grande amor de Nietzsche não realizado.
Lou considerava as mulheres mais livres que os homens, “as mulheres, capazes de se doarem integralmente no ato sexual, não sentem vergonha nem constrangimento. Era nessa perspectiva que concebia o amor sexual como uma paixão física que, uma vez saciado o desejo, se esgota. Por conseguinte, só o amor intelectual, fundado numa absoluta fidelidade, é capaz de resistir ao tempo”. (ROUDINESCO, p. 350)
Depois de Nietzche, também Freud ficou fascinado por Lou Andreas, cuja algumas semelhanças entre os dois poderia justificar essa identificação, “mesmo orgulho, mesma desmedida, mesma energia, mesma coragem, mesma maneira de amar e possuir avidamente os objetos eleitos”. p. 350
O seu encontro com a psicanálise, segundo a autora, se deu pela “adesão à concepção Nietzchiana do narcisismo, e mais genericamente ao culto do ego, característica da Lebensphilosophie do fim do século, que preparou o encontro de Lou com a psicanálise”. p. 351
Seu primeiro encontro com Freud se deu no ano de 1911 e, após se instalar em Viena no ano de 1912, Lou passa a assistir às reuniões do círculo freudiano, bem como as organizadas por Adler.
Lou abraça a causa freudiana junto com sua nova paixão Viktor Tausk, o qual era quase vinte anos mais jovem que ela. Junto a sua nova paixão ela iniciou-se na prática analítica, visitaram hospitais, conheceram intelectuais vienenses e observaram casos que lhes interessavam.
Após a Primeira Guerra, Lou se dedicou durante 06 meses aos cuidados das vítimas de traumas nervosos em um campo de batalha. Lou, muito próxima de Freud e sua família, supervisionou o tratamento de Anna Freud com Sigmund Freud.
Em 1931, quando Freud completou 75 anos, Lou lhe dedicou um livro onde colocava a sua gratidão e discordâncias com aquele que a recebeu como uma de suas melhores amigas e confidentes. “Freud lhe respondeu que ela colocava uma ordem feminina na desordem ambígua de seu próprio pensamento”. (ROUDINESCO, 2016, p. 354).
Para Lou “A vida humana – na verdade, toda a vida – é poesia. Nós a vivemos inconscientemente, dia a dia, fragmento a fragmento, mas, na sua totalidade inviolável, ela nos vive”.
Ouse, ouse … ouse tudo!!
Não tenha necessidade de nada!
Não tente adequar sua vida a modelos,
nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém.
Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.
Se você quer uma vida, aprenda… a roubá-la!
Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer.
Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso:
algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!
“Aos 74 anos, Lou Andreas-Salomé deixou de trabalhar como psicanalista. Ela desenvolveu problemas cardíacos, e em sua condição debilitada, passou por diversos tratamentos e internações hospitalares. Seu marido a visitava diariamente; Após um casamento de quarenta anos marcado pela doença em ambos os lados e longos períodos de não comunicação mútua, os dois se aproximaram. O próprio Sigmund Freud reconheceu isso de longe, escrevendo: “isso só prova a permanência da verdade [de sua relação]”. Friedrich Carl Andreas morreu de câncer em 1930. Lou teve que se submeter a uma difícil operação relacionada ao câncer em 1935″ e morre em 1937 de uremia.
MARIE BONAPARTE
Marie Bonaparte não teve a oportunidade de conhecer Lou Andreas-Salomé. Bonaparte era 20 anos mais moça. “Uma diametralmente oposta à outra, tanto por sua origem como por sua cultura, seu modo de vida ou sua adesão ao freudismo, as duas mulheres tiveram todavia em comum o amor vibrante que dedicavam a Freud”. (ROUDINESCO, 2016) P. 355.
Marie nasceu em Saint-Cloud, França, em 02 de julho de 1882. Era sobrinha-bisneta de Napoleão I. Seu avô era sobrinho de Napoleão Bonaparte. Seu avô materno François Blanc foi o fundador do Cassino de Monte Carlo, deixando a ela toda sua fortuna.
Após seu nascimento, ficou orfã de mãe, quando tinha 30 dias de vida, foi educada por um pai distante e uma avó paterna autoritária, o que lhe garantiu uma infância infeliz. Era uma criança solitária, criada com a ajuda de babás e proibida de ter amigos a não ser com os primos paternos. “Transformou-se em uma moça hipocondríaca, cheia de fobias, infeliz e, sobretudo, muito desconfiada”. Seu pai envolvido nos estudos e pesquisas de antropologia não tinha muito tempo para dar a atenção necessária que a filha lhe solicitava. Marie aprendeu a ler muito cedo e escrevia cartas ao pai buscando sua atenção. Após a morte do pai, descobriu que as cartas estavam guardadas, sem nunca serem abertas ou lidas.
Já aos quatro anos iniciou a aprendizagem da língua inglesa e alemã. Desde cedo desenvolveu o hábito de escrever.
Marie conheceu Freud somente no ano de 1925, aos 43 anos, quando estava à beira de um suicídio. Foi encaminhada por René Laforgue, psiquiatra e psicanalista para ser analisada por Freud. Assim, se instalou em um hotel, Bristol, e foi bem recebida por, nesse tempo, possuir o título de alteza real, princesa da Dinamarca e Grécia, título esse adquirido por um casamento aos 25 anos, para atender a ambição de seu pai, com o príncipe George da Grécia e Dinamarca.
“No início Freud desconfiou daquela mulher célebre e mundana, que gastava fortunas com roupas e um suntuoso estilo de vida. (…) A rigor não lhe apetecia tratar uma pessoa a quem julgava frívola. E, no entanto, conduziu com ela, de 1925 a 1928, e em sucessivas etapas, um dos tratamentos mais bem -sucedidos de toda a história de sua clínica, evitando-lhe o suicídio e múltiplas transgressões destrutivas”. (ROUDINESCO, 2016) P. 357
Sua análise durou inicialmente apenas dois meses, com duas sessões diárias. Marie volta para Paris, porém mantendo contato frequente com Freud, onde tornou-se sua grande amiga. Nos anos seguintes de 1926 a 1929 retornava para análise por algumas semanas e, ainda de 1934 a 1937, em algumas visitas a Viena aproveitava para se analisar.
Marie Bonaparte é considerada a primeira psicanalista francesa. Participou do grupo fundador da Sociedade Psicanalítica de Paris e durante o resto de sua vida trabalhou pela causa psicanalítica.
A sua obra é extensa, sendo que o assunto mais desenvolvido por ela foi sobre os mistérios da sexualidade feminina. Cabe a ela também o tradução e divulgação da obra de Freud. É lembrada como a psicanalista abastada que pode comprar toda a correspondência de Freud-Fliess, vendida pela viúva de Fliess, e uma das principais responsáveis pela retirada da família de Freud da Áustria, quando ocupada pelos nazistas.
Foi participante ativa da vida científica e da sociedade, defensora da análise leiga. Marie, dentro do movimento psicanalítico, debateu sobre a sexualidade feminina e distinguia três categorias de mulheres, como cita Roudinesco, 2016: “as reivindicadoras, que procuram apropriar-se do pênis do homem; as aceitadoras, que se adaptam à realidade de suas funções biológicas ou de seu papel social; e as renunciadoras, que se dissociam da sexualidade”. p. 358
“Se Lou foi para Freud a encarnação da inteligência, beleza e liberdade – algo como A mulher -, Marie tornou-se antes a filha, a aluna, a paciente, a discípula, a excepcional tradutora, a embaixatriz devotada, e apaixonada por chows-chows e a organizadora do movimento psicanalítico francês sobre a qual reinará, de maneira por vezes desastrosa, durante décadas”. (ROUDINESCO, 2016) P. 355.
Enfim respondendo a pergunta do título do estudo acredito que você já possa ter uma idéia sobre qual seria a resposta.
Aproveito para dizer que o objetivo desse estudo sobre algumas mulheres importantes da história do movimento psicanalítico, foi apenas trazer aqui para você um pouco sobre a vida e contribuição de cada um delas, lembrando que valeria a pena, caso seja de seu interesse, pesquisar e buscar mais informações aprofundadas sobre as mesmas.