Seria como se convertêssemos uma energia (interessante à pessoa) em outra (interessante à sociedade). Mas tem outras formas de saber o significado da Sublimação.
Conceituando a Sublimação:
Sublimação é o mecanismo que transforma algum desejo ou energia inconsciente em determinados impulsos que são bem vistos pela sociedade. Ou seja, geram atitudes aceitas e úteis pela sociedade. São meios que o nosso inconsciente usa para amenizar:
- dor;
- angústia;
- frustração;
- conflitos mentais.
Além do que falamos, são meios de lidar com o que leva a sentir angústia. Isto é, pensamentos ou sentimentos provocados por impulsos indesejados e transformados em algo menos prejudicial. Resumindo, o que pode ser peça construtiva de trabalho.
Podemos entender a Sublimação tanto como:
- um dos mecanismo de defesa do ego, sublimamos para evitar olhar para nós mesmos e realizar o processo doloroso de reorganizar nossa vida psíquica. Por esta perspectiva, a sublimação transforma impulsos inaceitáveis em comportamentos socialmente aceitáveis e produtivos.
- uma forma “normal”, não patológica e universal (todos os seres humanos) que usamos para transformar nossa energia psíquica e dosar e direcionar a maior parte de nossos impulsos e de nossa agressividade em favor de arte, trabalho, esportes etc.
Veremos estes dois aspectos da sublimação a seguir, neste artigo.
A etimologia ou origem da palavra vem do latim “sublimare”, que significa “elevar” ou “refinar”. Nos estudos da mente, atribui-se a Freud a introdução do conceito de sublimação para a psicanálise no início do século XX.
Alguns artigos podem usar como sinônimos: canalização, transformação, elevação, transmutação, redirecionamento, transposição, metamorfose e transubstanciação.
Um oposto à ideia de sublimação seria a indulgência. Sublimação canaliza impulsos de forma construtiva aos olhos da sociedade. Já a indulgência cede aos desejos sem controle.
É importante lembrar que as seguintes grafias estão incorretas, pois não existem as palavras: sublimassão, sublimasão, sublimacão (sem cedilha) e sublemação.
Funcionamento e os estágios da Sublimação?
A sublimação pode ser entendida como um direcionamento da energia pulsional que esteja sem representação (isto é, sem estar vinculada a outro uso evidente) para ser direcionada a um investimento psíquico considerado produtivo para a vida em sociedade, como o trabalho, as artes e os esportes.
Basicamente, os estágios da sublimação são:
- Existe uma energia psíquica de natureza pulsional e inconsciente.
- Esta energia é pura vontade de realização imediata, isto é, não pode ser colocada em palavras, não distingue o certo e o errado e não aceita o “não” como resposta.
- Porém, se esta energia for manifesta na foma de desejo puro, ela provavelmente se reveterá em agressividade desmedida ou outra forma de representação imediata de prazer: afinal, não seria possível viver em um contexto social em que todos realizassem o tempo todo suas vontades. Por exemplo, bastaria ter uma desavença simples com uma pessoa e isso poderia resultar em assassinato, ou desejar sexualmente uma pessoa e isso resultar em estupro.
- Em razão da impossibilidade de realização pura de todos os desejos, surge a civilização, sinônimo de cultura para Freud. Inclusive na obra o Mal-estar da civilização, a sociedade como um pacto em que as individualidades precisam abrir mão de partes da maior parte de seus desejos e impulsos, isso seria uma fonte do mal-estar “necessário”.
- Ao abrir mão, a energia não deixa de existir (representada, por exemplo, na disposição física e mental que temos) e é sublimada (direcionada) para algo socialmente “útil”, aceito e produtivo, como o trabalho e as artes.
Normal e patológico na vida psíquica e social:
Costuma-se entender sublimação como um mecanismo de defesa que destina a energia pulsional para tarefas como arte e trabalho. A sublimação para Freud não é necessariamente patológica (mas pode também o ser), é a base da civilização: em vez de agir de forma agressiva, usa-se esta energia para uma ideia de coletividade.
O excesso de sublimação é que pode ser patológico, por exemplo um superego rígido demais que só manda a pessoa trabalhar (como forma de “escape” ou defesa para não lidar consigo mesmo), sem conceder nada para seu prazer ou para seu “id”.
Então, em Freud, o limite entre normal e patológico é tênue.
Do ponto de vista individual, a sublimação pode ter:
- tanto o aspecto de normalidade: a sublimação é constitutiva da psique, relaciona-se especialmente com o ego (a forma como o sujeito se identifica em sua profissão ou vida familiar, por exemplo, “eu sou mãe e fisioterapeuta”) e o superego (os ideais e obrigações que a pessoa tem de viver em sociedade e “ganhar a vida”);
- quanto o aspecto patológico: se pensarmos que a sublimação pode também ser entendida como um mecanismo de defesa, como no caso de uma pessoa que se sinta mal por ser workaholic (trabalhar de forma compulsiva).
Do ponto de vista social, a sublimação pode também ter:
- tanto o aspecto de normalidade: a sublimação é um dos elementos fundantes da vida coletiva, pois o trabalho e a arte atendem (pelo menos em parte) uma divisão de tarefas benéfica também ao indivíduo;
- quanto o aspecto patológico: se pensarmos que o sujeito pode abdicar demais de seu id, de sua agressividade e do que lhe dá prazer, gerando-lhe o que Freud chama de “mal-estar (individual) na (vida em) civilização”.
A Sublimação pode se tornar algo patológico?
Sim, quando o superego hiperrígido não permite nenhuma forma instintiva ou pulsional de prazer (ou satisfação). Exemplo: o trabalho gratificante e em doses certas permite uma satisfação, mas seu excesso (workaholic) torna-se obsessão e pode gerar transtornos psíquicos, como a síndrome de bournout.
Individualmente (isto é, sem pensarmos o aspecto social positivo da sublimação), a sublimação pode ser um mecanismo de defesa do ego Isto é, pelo excesso de trabalho (por exemplo), impede que o ego olhe para si mesmo de forma crítica e (re)construtiva. Então, o ego se defende para continuar a ser o que é, evitando a “dor” de experimentar outros olhares sobre si.
Quando o superego (que é a dimensão social e moral do ego) força uma situação para não admitir nenhum prazer, a sublimação extrapola o seu papel e acaba se tornando patológico, pois não permite que a libido seja ao menos em parte prazerosa ao sujeito.
A Sublimação redireciona potenciais atos destrutivos para algo criativo do ponto de vista social. É uma criatividade que se torna eficaz, e tem a função de promover o esquecimento das lembranças dolorosas. Ela é direcionada para a nossa realização e também para a normalidade da pessoa, no sentido de desviar das metas sexuais para novas metas.
Sendo assim, serve para a construção do caráter, na edificação das virtudes humanas, é a defesa que busca a satisfação. Mas, quando usado em grande quantidade, ela se torna algo patológico, e o desejo sexual ou agressivo tem que ser transformado em algo produtivo.
Ou seja, mudado de foco para algo artístico, cultural ou intelectual. Assim, também transforma as emoções que estão causando conflitos em algo bom e criativo. Sem ferir ninguém, canaliza o desejo para algo aceito e que dá satisfação.
O inconsciente e o Ego:
O religioso descarrega o impulso com a substituição do cultural ou intelectual de forma desejável, sem deixar sofrimento na pessoa. Desviando o inconsciente, o ego satisfaz o id e a pressão do superego, e o inconsciente aceita a realidade e elimina a tensão.
Porém a energia sublimada é para as pessoas muito útil. Ela transforma o princípio do prazer em benefício, libertação e construção para o trabalho. Por isso, pode as deixar livres de pensamentos incômodos.
O inconsciente, o ego com aspiração codificada, se manifesta por meio de algo que reduz o desejo anterior. A libido, que é a base da vida e que faz a vida reproduzir por meio sexual, é uma força fundamental e vital. Se assim não fosse, voltaria à vida animal e não teria a crença na vida após a morte e nem a religião.
Controlando o prazer:
O jogo é a energia canalizada que é a sublimação. Ela dá o desvio para o trabalho, pintura, pois são atos desviados. É uma força que domina o princípio do prazer porém, obedece ao gozo pessoal, colocado sobre o princípio da realidade e sociedade. Além disso, dá lugar a civilidade, a segmentos da sociedade elencados nos tópicos abaixo:
- trabalho;
- cultura e arte;
- atuação social/política;
- lazer e diversão.
Alguns filmes, músicas e livros trazem esta experiência de personagens que sublimaram. Vamos destacar alguns:
- Filme “Frida” (2002): a artista Frida kahlo utiliza a sublimação para transformar sua dor em arte.
- Música “A Novidade” (Gilberto Gil e Herbert Vianna): a transformação do impulso sexual em arte e alimento.
- Livro “O Lobo da Estepe” (Herman Hesse, 1927): a sublimação é tida como uma forma de lidar com conflitos internos.
- Filme “A Sociedade dos Poetas Mortos” (1989): a sublimação é mostrada através do amor dos personagens por poesia e teatro.
- Filme “Whiplash” (2014): ilustra a sublimação da ambição e obsessão pela perfeição na música.
- Livro “O Retrato de Dorian Gray” (Oscar Wilde, 1890): explora a busca pela sublimação através da arte e da estética.
- Música “Lose Yourself” (Eminem, 2002): retrata a sublimação da raiva e do sofrimento em música e sucesso.
A busca da satisfação:
A sublimação inclina-se ao bem comum da sociedade, através de atividade sexual, do prazer reduzido com o objetivo da reprodução. Faz com que o homem se sinta útil como reprodutor e que as mulheres estejam livres da histeria psicossocial .
Viver significa trabalhar a concorrência formal, controlar e transformar em algo bom e útil. Ou seja, é um elemento presente na vida de qualquer ser humano, na busca da satisfação entrelaçado ao recalque, à norma social.
Ao se criar forças culturais, terá uma diminuição de adoecimento de pacientes neuróticos. Por isso, terá uma melhor presença da satisfação pulsional.
Considerações finais sobre sublimação:
Assim, devemos transformar nossos desejos recalcados em energia útil, sem prejudicar ninguém. Com a sublimação podemos usar nossas demandas para sermos bem sucedidos nos negócios, além da possibilidade de se tornar um artista. Tem que se transformar nossas energias agressivas em atos para salvar vidas. Isto é, em atos e atitudes dignas de reconhecimento.